Apresentadora relembrou casos de assédio que sofreu no início da carreira
MEXEU COM UMA, MEXEU COM TODAS
É assim, com esse título, que quero começar a minha coluna. Embora o tema assédio contra a mulher tenha viralizado agora, isso é algo que acontece há muito tempo. Aliás, com certeza, neste exato momento mais e mais mulheres estão passando por situações constrangedoras como o episódio que envolveu a figurinista Su Tonani e o ator José Mayer.
Preciso lembrar às pessoas que este assunto envolve poder. O poder do homem contra o dito “sexo frágil”, pois é assim que nós, mulheres, somos taxadas. Preciso lembrar ainda que alguns homens em cargos influentes, chefes de firmas, patrões, usavam muito – e ainda usam! – o tal do bordão: “OU DÁ OU DESCE!”. Ceder a esse abuso de poder seria como se prostituir. E se não fazemos o que querem, eles se sentem no direito de nos chamar de “vacas”.
Eu já passei por uma situação constrangedora dessas e, inclusive, já falei sobre isso quando escrevia para a revista Viva! Mais. Mas retomarei o assunto, até porque esta pessoa continua andando por aí... E, muito provavelmente, ele deve ter agido da mesma forma com tantas outras meninas e mulheres.
Para quem não sabe, quando eu tinha 17 anos, fui trabalhar como figurante no programa Planeta dos Homens, na Rede Globo. Na época, a atração tinha um diretor que, sempre que me via, dizia: “Menor (era como me chamavam), vai sair comigo?”. Eu respondia que não e ele me mandava para casa. Isso se repetiu por umas três vezes. Na terceira investida, ele disse para todos ouvirem em alto e bom som: “Menor, vai sair comigo ou não? Se a resposta for negativa, pode ir para casa e não voltar mais”. Saí de lá e não voltei mais. Fiquei triste, pois queria muito a oportunidade de entrar na Rede Globo e não via outra maneira, além de começar como figurante.
Alguns anos depois, já como apresentadora, assinei contrato com a Globo para fazer o Xou da Xuxa. Então, tive a oportunidade de rever este homem que ainda estava por lá. Na época, me perguntaram sobre que diretor gostaria que me dirigisse. Vi este mesmo homem sentado lá, olhando como se nada tivesse acontecido. Claro, ele não se lembrava que eu era a “menor”. Porém, eu não me esqueci do que havia acontecido. A gente nunca esquece.
Quantas mulheres e meninas tiveram que passar pelo o que eu passei? E não venha me dizer que são costumes antigos. Quem disse que nós mulheres “oferecemos” algo para estes homens que querem nos comer?
Enfim, vim aqui dizer que estou com você, Su! E com muitas outras mulheres que deveriam colocar a boca no mundo, falar, dar nome e sobrenome a estes machistas que pensam poder tudo. Se ninguém fizer nada para isso mudar, mudaremos nós. Pedir desculpa é o mínimo que alguém deve fazer. Eu nunca recebi um pedido de perdão pelo que aconteceu. Esses homens têm que ser expostos como está sendo feito. Apenas assim conseguiremos proteger o mundo que nossas filhas e filhos vivem de pessoas capazes de acreditar que o poder nunca irá abandoná-las. E se não abandonar, arrancaremos delas.
Tô dentro! MEXEU COM UMA, MEXEU COM TODAS.